Moda Sustentável


Reproduzo aqui um texto divulgado hoje pela Agência Envolverde sobre moda sustentável. Não se trata de usar tecidos orgânicos, como normalmente se fala por aí, mas de adotar uma nova atitude em relação ao vestuário. Vale a pena ler e pensar nisso.

O texto foi escrito por uma escritora europeia, então é preciso levar em consideração as condições de vida dos países europeus. Mas praticamente tudo se aplica ao Brasil.

Moda Sustentável

Por Sabrine Lage*

As mulheres passam 85 % do tempo a usar 15 % do vestuário que têm. E se não se sentirem bem com o que vestem, compensam com comida. Com o desenvolvimento da industrialização, perdeu-se a faculdade de julgar a qualidade de uma peça. Afinal, por que razão vale mais ter desejos maravilhosos do que realidades medíocres?

“Quando uma mulher se sente perfeitamente bem vestida, pode esquecer este aspecto dela mesma. É o que se denomina de charme. E quanto mais for bem sucedida em esquecê-lo, mais charme terá”, já dizia Francis Scott Fitzgerald.

Libertar a imaginação ao preferir peças manufacturadas segundo as tradições que recorrem ao saber, à experiência, à sabedoria transmitida por artesãos, de geração em geração; reduzir o recurso a criações de artistas individuais - que, em alguns casos, apenas procuram fazer fortuna -; eliminar as compras excessivas de “imitações” e vestuário produzido em condições desconhecidas do outro lado do mundo e de qualidade medíocre; é optar por um caminho em que cada peça é única, numa fuga assumida à padronização. Se possível, compre peças de estilistas locais. Se preferir estilistas americanos (latinos ou não), opte, pelo menos, por made in no mesmo continente.

Lojas de rua em vez de shoppings, quer no país onde reside ou fora dele, trarão outras alegrias. Entregue-se a mimos e cumplicidades e desfrute de uma confiança e conhecimento que lhe permita dizer não, ao mesmo tempo que se deixa brindar com um tratamento personalizado (acesso antecipado a promoções; reserva de peças que a vendedora saiba corresponder ao nosso estilo e tamanho, etc.), inatingível face a constantes mudanças de pessoal (nos shoppings). E leve o seu próprio saco (de pano) às compras. Nada de acumular sacos de plástico ou de papel desnecessários. Só não abdique da caixa de sapatos!

Fora com as peças faz-de-conta! Privilegiar materiais nobres e “virar as costas” a peças “faz-de-conta” (frequentemente made in China) garantem uma beleza eterna de graciosidade e elegância. Optar pela qualidade de básicos que envelhecem bem, comprar um saco de qualidade ou um colar de pérolas proveniente de um bom joalheiro pode ser qualificado de snobismo. Contudo, basta saber como estas peças foram manufacturadas para entender o seu custo e a sua qualidade. Experimente, por exemplo, a diferença entre lingerie sintética e de seda, junto à sua pele (e na sua gaveta) dando primazia a uma peça interior óptima, ao invés de dez medíocres... Agradece o seu guarda-roupa por “respirar” de novo - com menos peças por centímetro quadrado -, como a gestão do seu dia-a-dia. Basta abandonar, no passado, os dias em que perdia a conta das peças que “enchiam” o seu labiríntico guarda-roupa ou da “caça” às peças desaparecidas no fundo do mesmo. Pronta para dar o primeiro passo?

“O que voltaria a comprar se perdesse a mala numa viagem?”

Tente imaginar viver alguns meses com um guarda-roupa limitado a:

• 7 conjuntos de exterior (casaco, impermeável, sobretudo...)
• 7 peças (pull-over, pólo, camiseta, blusa, camiseiro, túnica...)
• 7 peças (calças, jeans, saia, vestido...)
• 7 pares de calçado (para caminhar, botins, botas, escarpins, bailarinas – melissas -, sandálias, calçado de interior, etc.)
• alguns acessórios (xaile em pashmina, lenços, cintos, chapéus, luvas...)
• roupa íntima, como a lingerie (é um lote à parte, mas deve ser tão estudado e pensado quanto o restante).

Ser ou não ser cúmplice do Capitalismo Gucci?


Se for habituée da corrida às lojas de moda e comprar como uma louca, não é tarde para entregar-se a uma nova abordagem: caso não reúna as condições para comprar o vestuário dos seus sonhos, poupe até reunir condições para se presentear. Não se trata de um convite para ser cúmplice do ‘Capitalismo Gucci’ (hiperconsumismo), mas sim para ter liberdade de fazer apostas mais inteligentes e reflectidas. De casar o que veste com o que é.
Idealmente, definirá um orçamento para o vestuário, como para a alimentação ou a educação. Porque vestir bem não é um luxo. É parte integrante de uma vida equilibrada, assim como habitar uma casa respeitável.

Segundo Dominique Loreau, autora francesa do livro “A arte da simplicidade” - e que adoptou o Japão para viver há mais de 30 anos –: “A moda muda. O estilo permanece. A moda é um espectáculo, o estilo é o pilar da simplicidade. A moda compra-se. O estilo possui-se e é um dom.” Resumindo, mulheres elegantes não se assemelham a uma árvore de Natal. Investem em peças com um corte irrepreensível, graciosos vestidos simples, apenas complementados por uma ou duas belas jóias, no máximo.

Eis as cores intemporais que nunca deixam uma mulher ficar mal: o beige, o cinzento, o branco e, naturalmente, o negro. Pelo qual o costureiro Yohji Yamamoto é apaixonado: “vestir cores importuna os outros, incomoda, é inútil. O preto e o branco oferecem tudo.” Têm uma beleza absoluta e permitem ir ao essencial (cor da pele, dos cabelos, dos olhos, de uma jóia... todos sobressaem melhor com negro ou branco, por vezes beige ou azul marinho – escuro -).” Nunca reparou que se cansa mais de peças com tecidos floridos, com padrão, bolinhas ou riscas?

Não se trata de levar a cabo uma exterminação. Contudo, para obter um guarda-roupa variado não deixa de ser mais sensato limitar-se a uma paleta mais restrita de tonalidades. Como refere a escritora francesa, “apurar a simplicidade oferece a chave da criação para um estilo próprio. Uma mulher bem vestida não só faz prova de bom gosto, mas também de inteligência, humor e audácia”. E ter essa sensação é, adicionalmente, ser percepcionada pelos outros desse modo: bonita.

Caixa – simplifique a sua vida... e o seu guarda-roupa


Ordene o seu vestuário. Quando dobrado e pendurado correctamente, “respirando”, dura mais tempo. Quanto às peças fora de estação, coloque-as num local diferente. Evita a confusão no roupeiro e simplifica-lhe a vida. Por fim, respeite o que veste como o seu corpo: perfume o seu guarda-roupa e gavetas (lavanda, etc.); proteja as lãs dos insectos (com grãos de pimenta preta, por exemplo); e deixe-se conquistar pelos cabides em madeira (tamanho de mulher), satisfazendo-se a cada momento que abre o seu guarda-roupa.

• Mantenha apenas roupa que adora;
• Seleccione as denominadas peças “mestre”: calças de boa qualidade em lã fina, um ou dois pares em linho (para o Verão e meia-estação), um belo e bom casaco e camisetas, camisas e/ou blusas variadas. Os vestidos permanecem uma opção feminina, intemporal e prática (fica pronta com uma peça apenas);
•Pense em três conjuntos perfeitos para três ocasiões: final de semana, saídas e trabalho;
•Opte por peças sóbrias e clássicas: torna as nossas escolhas mais fáceis;
•Privilegie peças que:
- possa vestir oito meses durante o ano;
- consiga conjugar com outras ou vesti-las isoladamente;
- tenham uma textura em seda, lã, cachemira ou algodão;
•Elimine o que é demasiado pequeno, gasto e velho (acrescentam-nos anos de vida);
•Mantenha dois bons pares de jeans (campeões do conforto, do prático e da qualidade);
•Permaneça fiel a um só estilo (“O estilo adquire-se com o conhecimento de si mesma”).

* Mestre em Sustentabilidade (Universidade de Cranfield, Reino Unido) e autora do livro "Sustentabilidade na mídia: o poder de (in)formar" (Envolverde, 2009 – Brasil)


(Envolverde/Plurale)


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Comentários

  1. Olá
    Achamos muito bom seu post. Acabamos de divulga-lo no twitter. Nossa empresa produz fios e tecidos a partir da reciclagem de tecidos chamados de "inúteis". É muito importante ter pessoas divulgando a ideia de sustentabilidade.

    Caso queira conferir:
    www.twitter.com/eurofios

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  2. Legal, obrigada. Gostaria de saber mais sobre o trabalho de vocês, como faço?

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