ELETRICIDADE X ETANOL: Qual a melhor opção para uma mobilidade sustentável?
Alguns acontecimentos deste mês me fizeram escolher o tema desse post: a transição energética na área da mobilidade. Um deles foi o escândalo de corrupção envolvendo a concessão para extração/produção de lítio e de hidrogênio verde que acabou levando à renúncia do primeiro-ministro de Portugal. Outro é a realização da COP 28 nos Emirados Árabes Unidos, o sétimo maior produtor de petróleo do mundo – o que gerou protestos de ambientalistas, tendo em vista a incongruência de se realizar uma reunião de cúpula focada em acelerar a transição energética e reduzir as emissões de carbono até 2030 num país cuja economia depende basicamente de combustíveis fósseis. Enfim, a questão da sustentabilidade é mais complicada do que parece…
Esses fatos me trouxeram de volta à cabeça uma questão sobre
o qual eu queria muito falar já há algum tempo: por que razão o mundo está tão
focado na troca de veículos movidos a combustíveis fósseis por modelos movidos
a eletricidade, com baterias de lítio, e ninguém praticamente aborda a questão
do etanol. É um combustível de fonte renovável, menos poluente, largamente
usado no Brasil – que tem uma das maiores economias e um dos maiores mercados
consumidores do mundo. Não é à toa que as grandes montadoras de automóveis com
fábricas instaladas no país já dominam a tecnologia de produção de carros
movidos a etanol.
Encontrei alguns artigos, estudos e reportagens que abordam o desempenho ambiental do etanol com o da gasolina e da eletricidade nos carros que disponibilizei abaixo para contribuir com essa reflexão. Alguns destaques:
- Nos países em que a maior parte da energia elétrica é gerada pela queima de combustíveis fósseis, o carro 100% a eletricidade emite mais gás carbônico que a gasolina.
- Mesmo onde a maior parte da matriz energética é renovável – caso do Brasil, em que passa de 80% –, fazendo com que a pegada de carbono de um veículo elétrico seja menor, o etanol tem um desempenho muito melhor em termos de emissões.
- O carro elétrico tem uma pegada de carbono alta, ainda que não emita gases no seu funcionamento. O processo de produção das baterias é bastante poluente e, além disso, tem um impacto ambiental elevado, já que o lítio usado nelas é um minério cuja extração causa danos nas paisagens (como qualquer atividade de mineração), consome grandes quantidades de água (recurso cada vez mais escasso no mundo todo) e pode provocar contaminação do solo e do ar.
- Uma bateria de lítio pode ser uma vida útil de 8 a 10 anos, ou cerca de 160 mil a 200 mil quilômetros. E seu descarte é uma questão muito relevante, porque o processo de reciclagem é complexo e ainda não há uma estrutura de logística reversa estabelecida para isso.
- O etanol também gera emissões de gás carbônico, mas muito menores que a gasolina (e, como mencionado, os carros elétricos em alguns países). Além disso, como a matéria-prima é a cana-de-açúcar ou o milho, esse gás acaba sendo "recapturado" durante o cultivo dessas plantas. E os resíduos da produção do etanol podem ser reutilizados na fabricação de fertilizantes e até de biogás.
O que eu sei de fato é que gostaria de ver o tema dos
biocombustíveis mais presente nas discussões sobre transição energética na
mobilidade para entender se os carros elétricos com baterias de lítio são mesmo
o melhor caminho ou se estamos seguindo, sem a devida reflexão, um rumo que interessa
apenas a poucos.
https://jornal.usp.br/articulistas/marcos-buckeridge/carro-eletrico-uma-boa-opcao-porem/
https://greensavers.sapo.pt/exploracao-de-litio-em-portugal-quais-sao-os-riscos-ambientais/
https://revistapesquisa.fapesp.br/eletricos-movidos-a-etanol/
Foto: Michael Marais na Unsplash
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